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Música

Ouça a Mixtape de 1995 que Apresentou o Daft Punk para os Estados Unidos

Numa época pré-mp3, os ravers davam seus pulos atrás de fitinhas K-7 para saber qual era o suprassumo da noite daquela época.

Na história oral sobre o primeiro show do Daft Punk nos Estados Unidos — o qual, supreendentemente, rolou no meio do nada na região meio este do país — o autor do relato, Michaelangelo Matos, afirma mais uma vez que a dupla francesa, bem antes de rodar o mundo com seus capacetes estilosos, atraiu os olhares da cena norte-americana graças a uma mixtape — a New School Fusion, Vol. 2, de Chicago, através do DJ Terry Mullan. O lado B do segundo single do Daft Punk para a label Soma, "Da Funk", era a última faixa da fita, que foi lançada alguns meses antes do show da dupla no festival anual Furthur da Drop Bass, na região rural de Wisconsin. A faixa, que foi acrescentada na mixtape super de última hora e a fita cassete se tornaram tão onipresentes que o editor de zines sobre raves Matt Bonde (aka Matt Massive) disse a Matos que: "A galera se referia à faixa como 'Aquela Música do Terry Mullan'".

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Leia: "Daft as Punk: Tocando COMO o Daft Punk"

Isso deve dar um pequeno crédito ao Mullan na ascensão monstruosa do Daft Punk, mas na época do lançamento do New School Fusion, em 1995, eles eram vistos apenas como dois produtores novatos do rolê house de Paris, enquanto o Mullan fazia parte de uma espécie de realeza da cena rave do meio oeste norte-americano, lançando mixtapes milionárias (10 mil cópias vendidas e milhares de regravações rapidamente) e colando com uma galera peso pesado de Chicago, como o Derrick Cartes, DJ Sneak e Green Velvet (os quais foram homenageados pelo Daft Punk na faixa "Teachers").

New School Fusion, Vol. 2 foi a sequência da original feita em 1993, mas ofuscou qualquer outra coisa daquela época graças a sua mixagem primorosa e seleção de faixas de primeira que contribuíram para que a viagem dos baladeiros de plantão rumo aos eventos semanais que rolavam no circuito de festas do centro-oeste americano, desde Detroit, passando por Louisville até Kansas City e Minneapolis (incluindo Chicago, Columbus, Milwaukee, Madison e várias outras cidades no centrão) ficasse bem mais da hora.

A fita começa com uma jam arrebatadora e autointitulada do produtor holandês nada mainstream Essit Muzique, uma faixa que é capaz de condensar três trechos que não saem da cabeça depois que ela para de tocar em apenas um lado, e logo em seguida vem a "Deeper — Cano Bros.", lançada pela label de referência do Green Velvet, a Relief Records, por dois produtores de Chicago menos conhecidos ainda, o Reginald Rodgers e o Solomon Bramlett, sob o pseudônimo de Random Access (sério mesmo). A faixa conta com um loop instrumental extraído da faixa disco de 1978 "Fly With The Wind", da Peter Jacques Band e serve de apoio para um retalho do vocal da Barbara Tucker na faixa "Beautiful People", produzida pelo Masters At Work e lançada pela épica label de house nova iorquina Strictly Rhythm (apesar de muitos se lembrarem da letra de "Deep Inside" por causa do disco do Harddrive — outro pseudônimo dos caras do MAW — de mesmo nome).

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Este método de produção que faz reuso/reciclagem esteve presente de cabo a rabo na cena de música eletrônica dos anos 90, um formato anterior aos mega mashups feitos com Ableton, dependentes de vinis extremamente limitados e disponível apenas para os DJs de elite que passavam horas nos corredores (e atrás dos balcões) de lojas de discos infames como a Gramaphone, em Chicago.

O Masters At Work faz uma aparição respeitável no lado B de New School Fusion com mais uma faixa super reconhecida, a "The Ha Dance", ao lado de uma coleção global de faixas clássicas de acid rave da Alemanha (Ian Pooley, Mike Ink), Suécia (Cari Lekebusch), Londres (Neil Landstrumm), Toronto (The Stickmen) e Austrália (Vitamin HMC), comprovando o quanto as suas gravações precisaram viajar nessa era pré-internet para no fim acabarem num toca-fitas de um baladeiro dos anos 80. Acesso mundial e softwares mais intuitivos são dois dos fatores que possibilitam o amor dos millenials pelo EDM, mas a ideia por trás dos beeps e beats que cruzaram fronteiras está capturada aqui.

Tradução: Stefania Cannone

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